Arranca o gosto amargo, destempera
o excesso de amargor, desesperanças,
e viva, sem temor, as mil nuanças
dos tempos qu'inda restam. Acelera!
Refaça teus acordes sem cobranças
dos erros cometidos, nova é a era.
O canto se reveste de quimera
em tons e semitons que tu alcanças.
Liberta-te da fera que reprime
anseios desgastados. Qual o crime
de amar e perceber-se ainda amada?
É tempo de sorrir pois a alegria
abraça o teu viver sem fantasia.
Desperta! Eu te sei enamorada!
"A poesia nasce na alma de quem a concebe
e debuta nos sentimentos que desabrocham
no peito de quem a abraça". C.Canton
LONGA ESPERA
Não tente o sonho nessa breve pausa
onde repousa o encanto já vivido.
Se tu és estrela, urge que dês causa
ao novo apelo. O antigo foi vencido.
Nada de apegos, nada de saudade
do que já foi vanguarda nos teus passos.
O que te espera clama a eternidade
e hão de tombar acordes de fracassos.
Nos bastidores, nula e enternecida,
de ti me aparto, a luta foi vencida.
Eu já diviso o brilho em teu olhar.
E me despeço, corto o laço e sigo
ao esquecido, porto e sempre abrigo
onde serei uma outra...Em meu lugar.
DES*COMPLIC*ANDO
Perdoa esta franqueza exagerada
que vês jorrar aqui no meu cantar.
Perdoa se o seu tudo é quase nada
no meu que já passou do despertar.
Perdoa o meu sorriso sem barreira
e a voz que não se cala censurada,
o não da minha tarde passageira
vingando o sim da nossa madrugada
Perdoa se esqueço o importante
que dizes, em encontros casuais,
se acho que o pouco é bastante
em meio a tantos falas informais.
Perdoa se me atenho a este momento
buscando um só acerto nos errados,
se pago muito só por um lamento
e pouco por dezenas de pecados.
Perdoa! Não te ofendas se a ousadia
permeia cada passo sem tropeço.
Perdoa se esta ausência de euforia
demonstra que não ligo ao que mereço.
Perdoa! Nosso tempo é meu amigo
e já me perdoou pela demora.
Entende o meu anseio tão antigo
e sopra-me bons ventos num agora,.
ESPELHO MEU
Mulher feita, ou quase, como queiras,
debruçada em teus sonhos, fantasias,
foste em busca de perfeitas sintonias
com o mundo de alegrias passageiras.
Abraçada ao que achavas verdadeiro,
entre estrelas desfilavas confiante.
Não julgavas que o vôo, a cada instante,
fosse apenas um apelo feiticeiro.
E valsavas... Cada passo entrelaçado
entre as nuvens dos desejos escondidos,
eram contos por magias guarnecidos,
mas dormentes 'inda hoje, no passado.
Acordaste! Vês agora que a verdade
perambula, oscilante, em teus clamores,
que não fazem mais sentido nos amores
resguardados pelos laços da saudade.
Responde,
espelho meu:
Onde foi
que meu sonho
se escondeu?